Fintechs de pagamento enfrentam 1º teste na Bolsa: ações despencam, com juros altos - Jornal O Globo
SÃO PAULO - Em meio à maior necessidade de financiamento que o mundo tecnológico exige e ao aumento dos juros no Brasil, as ações das chamadas fintechs de pagamento estão passando por uma forte correção de preços em seu primeiro teste de resistência no pregão, dizem analistas.
Os papéis de empresas como Stone e PagSeguro, negociados na Bolsa americana Nasdaq, acumulam perdas de 32,94% e 13,78% nos últimos cinco pregões; em seis meses, a desvalorização chega a 72% e 39%, respectivamente.
Essas empresas também têm recibos de ações negociados na B3, os chamados Brazilian Deposit Receipts (BDRs), que seguem o movimento de desvalorização das ações nos EUA.
Um dia depois da inauguração da estátua, manifestantes do SP Invisível promoveu um churrasco para pessoas em situação de rua em frente à escultura Foto: Divulgação / SP InvisívelNa quarta (17), grupo de manifestantes colaram cartazes na escultura com a palavra "fome" Foto: Fotoarena / Agência O GloboEstátua dourada de um touro, instalada na última terça (16) em frente ao prédio da B3, em São Paulo, amanheceu pichada nesta quinta (18) Foto: RONALDO SILVA / FUTURA PRESS / Agência O GloboÉ o segundo dia seguido que o touro de ouro instalado em frente à sede da B3, a Bolsa de Valores Brasileira, foi alvo de algum tipo de intervenção de movimentos sociais Foto: Reprodução / TwitterAção foi de autoria do coletivo “Juntos”, que pichou o touro com os dizeres “Taxar os Ricos”. Movimento contesta a "existência de bilionários enquanto o povo vive a procura de ossos de boi e carcaças de frango”, chamando a atenção para a desigualdade social Foto: RENATO S. CERQUEIRA / FUTURA PRESS / Agência O GloboEstátua foi inaugurada na terça-feira (16), no centro de São Paulo. O Touro de Ouro, segundo a Bolsa de Valores Brasileira, é uma "homenagem à força e à coragem do brasileiro" Foto: Divulgação / B3Réplica do Touro de Wall Street, localizado no distrito financeiro de Nova York, foi instalada na área central da capital paulista. Por ser dourada, a versão brasileira foi batizada de Touro de Ouro, enquanto a original é de bronze Foto: AMANDA PEROBELLI / REUTERSEstátua dourada de um touro pesa uma tonelada, tem cinco metros de comprimento e três metros de altura. Escultura foi financiada pela B3 em parceria com o economista e educador financeiro Pablo Spyer. Valor não foi divulgado Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Para Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, a trajetória de alta dos juros no Brasil prejudica as fintechs de meios de pagamento ao encarecer o custo de sua operação e também da captação de recursos, dada a necessidade de investimentos.
— E, diferentemente dos bancos digitais, essas fintechs têm um mix mais restrito, não conseguem oferecer tantos produtos ao consumidor. A Stone, por exemplo, tentou oferecer crédito e teve problemas. Além disso há o Pix, que reduz a margem de geração de receitas — diz Crespi.
Nos Estados Unidos, os juros dos títulos do Tesouro americano também sinalizam alta, com previsão de um futuro enxugamento de liquidez.
— A Nasdaq só respira bem quando os juros estão atraentes para alimentar a incansável necessidade de investimentos que exige o mundo tecnológico. Por aqui, com a alta da inflação, quem mais perde é a classe de renda que é o foco dessas fintechs, os desbancarizados. A inadimplência está batendo na porta — diz o analista da Senso Investimentos João Frota.
Os números divulgados pela Stone, referentes ao terceiro trimestre deste ano, já mostram menos fôlego do que esperava o mercado. Apesar de crescimento de 8% nas transações, o lucro líquido caiu 54% em relação ao mesmo período de 2020, para R$ 132,7 milhões. Analistas esperavam, em média, lucro líquido de R$ 193 milhões.
O analista da Avenue William Castro Alves lembra, no entanto, que o prejuízo contábil da Stone ficou em R$ 1,26 bilhão no período devido à desvalorização das ações do Banco Inter.
Em junho deste ano, a Stone aportou R$ 2,5 bilhões no Inter, ficando com uma fatia minoritária de 4,9%. Nos últimos seis meses, as ações do banco Inter desabaram mais de 50%.
— A desvalorização das ações do Inter afetou os números da Stone no terceiro trimestre — disse Alves.
Custo de integração
A queda dos papéis da Stone contagiou as ações da PagSeguro, sua principal concorrente. Desde a semana passada, analistas de grandes bancos já vinham colocando em xeque a tese de investimentos dessas fintechs de pagamento.
Fundada em 2012 como uma plataforma para motoristas de táxi, depois aberta para autônomos, a 99 se tornou o primeiro unicórnio brasileiro em janeiro de 2018, após ser adquirida pela chinesa Didi Chuxing em negócio avaliado em US$ 1 bilhão. Foto: REUTERS/Paulo WhitakerO banco digital Nubank cresceu rapidamente tendo um cartão de crédito solicitado por aplicativo no celular como cartão de visitas. Já vale mais de US$ 30 bi e chamou a atenção recentemente ao receber aporte de US$ 500 milhões do bilionário americano Warren Buffett, e outros US$ 250 milhões da americana Sands Capital com Verde Asset e Absoluto Partners. Foto: Urbano Erbiste / Agência O GloboA Stone ganhou destaque por desbravar o mercado de máquinas de cartões antes dominado por gigantes e conquistar o seu espaço. Porém, sua classificação como unicórnio é controversa, pois alcançou a marca de US$ 1 bilhão em valor de mercado após seu IPO, em outubro de 2018. Algumas listas a deixam de fora, por considerarem unicórnios apenas empresas de capital fechado. Foto: Agência O GloboA Loggi transformou o mercado de courrier, colocando os clientes que desejam entregar objetos em contato direto com os motoboys. Foi dessa forma que a empresa fundada no Brasil pelo francês Fabien Mendez conseguiu investimento de US$ 150 milhões do SoftBank em junho do ano passado, conquistando o título de unicórnio. Foto: WILLIAN MOREIRA / Agência O GloboA Gympass funciona como um Spotify do exercício físico. Por uma assinatura mensal, os usuários têm acesso a uma rede de milhares de academias parceiras. O modelo chamou a atenção de investidores, que aportaram US$ 300 milhões na companhia em junho de 2019, transformando-a em mais um unicórnio brasileiro. Foto: DivulgaçãoO QuintoAndar nasceu em 2013 com a missão de desburocratizar os aluguéis de imóveis no país. Para os inquilinos, nada de fiador ou caução; e aos proprietários a garantia do pagamento na data estipulada, mesmo que o locatário atrase. Em setembro do ano passado, recebeu aporte de US$ 250 milhões e superou os US$ 1 bilhão em valor. Foto: DivulgaçãoCom sede em Curitiba, a Ebanx realiza o processamento de pagamentos em reais para empresas estrangeiras, como Spotify e Airbnb. Em outubro do ano passado recebeu investimento do fundo de private equity FTV, se tornando primeiro unicórnio da Região Sul do país. Foto: REUTERS/Steve MarcusCriado em 2011 para facilitar o pedido de entrega de comida em restaurantes, o iFood se tornou unicórnio em novembro de 2018, após receber aporte de US$ 500 milhões. O serviço ganhou importância durante a pandemia, mas também críticas pela situação dos entregadores. Foto: DivulgaçãoA segunda startup a se tornar unicórnio no ano foi a da holding 2TM, o Mercado Bitcoin. É o primeiro unicórnio do segmento de criptoativos no Brasil, com valor de mercado avaliado em US$ 2,1 bilhões. O feito ocorreu após a empresa receber um investimento de US$ 200 milhões do Softbank. Foto: DivulgaçãoA carioca VTEX oferece serviços que estão por trás dos sites de comércio eletrônico, ajudando os varejistas a converterem vendas. Com o aporte recebido nesta semana, se tornou o 11º unicórnio brasileiro. Foto: CJPress / Agência O GloboO negócio da Loft é comprar, reformar e revender imóveis, mas na escala dos negócios digitais. Apenas no ano passado foram mais de mil apartamentos residenciais negociados. Fundada em 2018, levou menos de dois anos para se tornar unicórnio, alcançando o posto em janeiro deste ano. Foto: Loft/FacebookA primeira do ano a integrar o grupo de unicórnios do ano foi a curitibana MadeiraMadeira. Após receber um investimento de US$ 190 milhões, a empresa atingiu valor de mercado de US$ 1 bilhão. O aporte foi liderado pelo fundo Softbank, além dos gestores Dynamo, Flybridge e Monashees. Na foto, Marcelo Scandian, Daniel Scandian e Robson Privado, da MadeiraMadeira. Foto: MadeiraMadeira/Divulgação
O Bradesco BBI, por exemplo, rebaixou a recomendação para as ações da Stone de neutro para underweight (abaixo da média do mercado).
Na análise do Bradesco BBI, a expectativa de lucro da empresa este ano caiu 58%, para R$ 745 milhões. Em um relatório divulgado no fim de semana, liderado pelo analista Otavio Tanganelli, o Bradesco BBI cita a alta de custos operacionais que a Stone deve ter para a integração da Linx, empresa de software especializada em varejo, comprada no fim do ano passado por R$ 6,7 bilhões.
“A StoneCo deve enfrentar a pressão da integração de custos mais altos da Linx e investimentos em tecnologia, vendas e marketing”, diz o relatório.
Queda dos papéis da Stone contagiou as ações da PagSeguro Foto: Agência O Globo
Os analistas do Bank of America (BofA) reiteraram a sua visão neutra para as ações da Stone, com preço-alvo de US$ 59. A ação fechou ontem a US$ 17,53.
“É importante ressaltar que a empresa não apresentou sinergia de receita ou de custo com a aquisição da Linx”, escreveram os analistas Mario Pierry, Antonio Ruette e Flavio Yoshida, do BofA.
Incerteza da recuperação
Para o banco Goldman Sachs, o resultado mais fraco da Stone no terceiro trimestre deveu-se principalmente às maiores despesas financeiras, devido ao aumento das taxas de juros. A empresa também investiu R$ 120 milhões para o crescimento do negócio no período.
“Acreditamos que os resultados criam incerteza adicional quanto ao momento da recuperação do negócio”, escreveram os analistas do banco.
O arquiteto paranaense Mauricio Arruda é outro que ataca de influenciador digital para promover seu escritório, o Todos Arquitetura. Ex-apresentador do Decora, do GNT, ele usa sua experiência na TV para dar dicas sobre decoração de interiores usando seus projetos e apresenta produtos de marcas Foto: Eliana Rodrigues / ArquivoPara cativar seus 815 mil seguidores do Instagram e mais de um milhão de inscritos no YouTube, a arquiteta Patricia Pomerantzeff aproveita ao máximo suas visitas às obras para captar imagens e dar dicas sobre todas as etapas de um projeto da Doma Arquitetura Foto: Mariana Orsi/DivulgaçãoA dermatologista Katleen Conceição turbinou o negócio de consultorias on-line com ‘lives’ e passou a ser convidada por empresas para dar palestras. Foto: DivulgaçãoGleide Borges (@agleidequefez), de Brasília, fez o curso em 2017, quando decidiu tirar do papel sua confeitaria, que batizou de “A Gleide que fez”. Ela tinha acabado de ficar desempregada e vendia doces no boca-a-boca. Hoje, 80% do seu faturamento vem da internet Foto: Arquivo pessoalA estilista Carolina Etz (@carolinaetz) compartilha vídeos sobre o cotidiano, da viagem em família a um prato que arrisca na cozinha, sempre vestindo suas peças. Mistura fotos profissionais e amadoras com modelos, mas os garotos-propaganda que mais fazem sucesso em suas redes são os filhos pequenos. Foto: Acervo pessoal
Durante a teleconferência de resultados do terceiro trimestre, lembrou o Goldman Sachs, a Stone destacou as necessidades de maiores investimentos a curto prazo, a fim de explorar oportunidades de mercado de longo prazo em micro e pequenas e médias empresas.
Apesar do resultado mais fraco no período, o Goldman Sachs manteve a recomendação de compra dos papéis.
Os analistas do BTG também mantêm a recomendação de compra para os papéis do PagSeguro, apesar dos desafios relacionados ao aumento das despesas financeiras.
No comments:
Post a Comment