O tom mais inclinado à retirada de estímulos adotado pelo Copom no comunicado de ontem propiciou um novo pregão de ganhos fortes para a moeda brasileira. Diante da expectativa da continuidade de ajustes maiores no início e também de uma taxa terminal maior da Selic, que ajudaria a recompor mais rápido e de forma mais robusta o diferencial de juros com o exterior, o dólar foi buscar níveis não vistos desde janeiro.
No encerramento do dia, a moeda americana foi negociada a R$ 5,2779, baixa de 1,62%. Este é o menor nível de fechamento da moeda americana desde 14 de janeiro, quando encerrou a R$ 5,2073.
Ontem, o Copom elevou o juro básico em 0,75 ponto percentual, para 3,50% ao ano, e já contratou outra alta da mesma magnitude para a reunião de junho. Além disso, também conservou no comunicado oficial a expressão “normalização parcial”, ressalvando, no entanto, que não há “compromisso com essa posição”.
Embora tenha mantido a referência ao ajuste parcial, o comunicado foi tido como mais 'hawk' por ter desidratado o compromisso com tal medida. Essa leitura beneficia a moeda brasileira na sessão, à medida em que carrega a promessa de uma recomposição maior e mais rápida do diferencial de juros com o exterior.
Para Ettore Marchetti, diretor da EQI investimentos, o mercado já vinha precificando uma normalização completa da política monetária e se sentiu contemplado quando o Copom, mesmo mantendo a referência ao ajuste parcial, ponderou que a avaliação fazia sentido “neste momento”.
“Foi o empurrãozinho que precisava para o câmbio”, diz, notando que vários outros fatores já davam sustentação antes. “Olhando os termos de troca, os preços das commodities na lua, o ruído político que ficou bem menor, a crise da covid que melhorou na margem, tudo conspirava”, diz.
Marchetti nota que o forte desempenho do real nas últimas semanas já começa a fazer exportadores pensarem em internalizar receitas que mantém lá fora. Este movimento já tem começado e, caso ganhe tração, deve intensificar ainda mais o derretimento da moeda americana no Brasil, diz.
O novo tom do Copom não resultou em mudança nas posições da gestora. Marchetti, no entanto, diz que cerca de 15% da exposição da casa já está em apostas no real contra o dólar. Esta concentra também o maior risco, junto com a posição em treasuries americanas.
O bom desempenho recente do real parece ter muito a ver com o início do ciclo de altas da Selic. Desde 17 de março, quando o Copom deu largada ao ajuste com a primeira elevação de 75 pontos-base, o real se valorizou 5,82%, o melhor desempenho entre as 33 divisas mais negociadas do planeta e muito à frente do peso chileno, que subiu 3,23% no período.
Para Sérgio Zanini, sócio e gestor da Galápagos Capital, a nova postura do Copom faz com que o real consiga refletir o forte movimento dos preços das commodities, que estava represado até o momento por causa do baixo diferencial de juros. Ele ressalta, ainda, que a dinâmica de crescimento mais forte que o Brasil e o restante do mundo devem enfrentar no segundo trimestre podem fazer com que o Copom não consiga encerrar o ciclo nem mesmo no nível considerado neutro de 6,50%, para onde o mercado já começa a se mover.
“O real se valorizou 5,82%, mas uma cesta de commodities agrícolas que acompanhamos, que tem forte influência sobre preços de alimentos, subiu 9% no período, e isso gerou mais inflação”, diz Zanini, que diz manter uma aposta relativamemente modesta no real, mas também uma estrutura de opções que pode aumentar à medida que o dólar vai caindo. “Acho possível o dólar testar os R$ 5,00 até o fim do ano”, diz.
Para economistas do Citi, o comunicado do BC ajuda a moeda brasileira neste momento, em especial, contra as demais pares emergentes, à medida em que uma Selic mais alta retira o incentivo de se utilizar o real como contraparte para apostas em outras divisas. O banco americano acrescenta ainda que a estratégia de entregar um ajuste mais rápido traz benefícios adicionais à moeda. "Mais carrego agora é melhor que a promessa de mais carrego adiante", diz o Citi, em referência à intensão do Copom de promover uma normalização apenas parcial.
Por outro lado, embora o cenário para a moeda brasileira seja melhor neste momento, o Citi pondera que o péssimo histórico recente do ativo e o receio em relação à conhecida sazonalidade negativa de maio para os mercados globais para faz com que investidores com quem o banco teve contato cria um ambiente “dual, onde os agentes podem ambarcar no otimismo de curto prazo, mas são rápidos em assumir posições negativas se o dólar cair abaixo de R$ 5,30”, diz um relatório recente assinado pelos economistas Alvaro Mollica e Dirk Willer. “Isso nos sugere que o real não terá um caminho suave em relação à moeda americana.”
— Foto: Pixabay
Dólar fecha no menor patamar desde janeiro com expectativa por mais aumento da Selic - Valor Econômico
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